12/07/2014

O amor é bem mais do que isso! - Por Pedro Gabriel

O amor parece ter nascido aqui nesse leito sereno para depois morrer confuso, ali, no seu peito ausente. Talvez nada lhe falte e até sobre verdade sobre a mesa do jantar que não jantamos ontem. Talvez até sobre um recado no bolso do paletó, que diz que a paixão é um pequeno pecado doido para ser perdoado. Eu perdoei loucamente todos os seus pecados: um por um, dores por dores, sentimentos por sentimentos. Talvez ainda reste um resto de eu te amo enrolado neste guardanapo que roubei do balcão do meu bar predileto… Na gaiola invisível ainda ouço a liberdade se prender ao canto do curió – meu pássaro favorito! Curiosos são aqueles que querem a verdade, o que eu quero é ver, rever, berrar: reverberar!

Ainda me lembro do dia em que dissemos: seremos felizes até que a poesia nos repare. Primeiro, você riu, eu gargalhei e nós casamos. Depois, eu li, você ouviu e, nus, transamos. Por fim, eu lembrei, você se esqueceu e nós cansamos. Hoje, ainda que me falte você, nunca me faltará poesia. Um poema é o próprio abandono descrito em versos, diversas vezes. É o poeta em estado onírico implorando em rimas, alexandrinos, decassílabos decadentes: “Volta para mim, palavra bonita. Volta!”. Seu mundo sempre foi confuso, uma mistura moderna de Garcia Márquez com qualquer pintura de Velásquez. Você só parece amar quem pisoteia nos seus sonhos, quem tapa os seus sorrisos com lágrimas, quem lhe abandona sem roupa, sem mundo, sem beijo. Veja só: As Meninas na corte do rei parecem cortejar o seu coração. Corta a cena: seu azar foi ter vivido Cem anos de Solidão em uma única relação. Talvez por isso nada lhe emocione mais: nem o piano que toca algumas notas de jazz, nem o coração em guerra que, no peito, hasteia uma bandeira de paz. Talvez por isso nada lhe interesse mais: nem as cartas nem as caras de amor. Todas elas são ridículas, já dizia o poeta, todas elas são partículas de sentimento que não insiste mais… Contudo ainda me pego algumas vezes tateando uma sombra incompreensível que fala e que fuma e que finge estar viva. Só finge! Uma sombra precisa de luz para ser viva. Um amor precisa de vida para reluzir. Eu preciso de ambos para existir.

Agora podemos ir, dobrar uma esquina qualquer, reconhecer que a vida tem seus tropeços, seus problemas e seus soluços. E soluços nada mais são do que palavras que morreram engasgadas na vontade de dizer. O tempo dirá, o remorso roerá, o cigarro apagará e eu tenho a mais absoluta certeza que outra beleza menos confusa e mais Clara amanhecerá no meu mundo para me amar como eu não te amei.

E se você foi covarde, tudo bem… Todo mundo tem suas fraquezas. Nem todo mundo aguenta ser feliz. Eu também preciso de uma Trégua…

Fique com seus romances latinos;

Eu versifico com os meus poemas batidos:

O amor é bem mais do que isso… O amor é bem mais do que tudo isso.


__________________________________________________________________________
Vocês provavelmente já devem conhecer a página Eu me chamo Antônio, na qual o Pedro Gabriel Anhorn, posta seus guardanapos criativos de pura poesia. Estava lendo sua página hoje, a qual não visitava há tempos, e esse texto me tocou de forma tão profunda, que senti a necessidade de compartilhá-lo com vocês. 

Bom final de semana à todos ;) 

9 comentários:

  1. Hey!

    AMEI isso "Ainda me lembro do dia em que dissemos: seremos felizes até que a poesia nos repare." Esse cara escreve muito bem, senti no peito cada emoção descrita, e fiquei encantada com seu dom com as palavras. Quero muito ler o livro dele!

    Beijos
    http://escolhasliterarias.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. As frases dele são muito bem construídas, posso dizer que sou terminantemente apaixonada pelo trabalho do Pedro, rsrs.

      Abraços.

      Excluir
  2. Cara, eu amo esses textos, eles mexem com a gente, trazem um monte de recordações e pensamentos soltos, coisas que todo mundo já viveu e ele sabe descrever.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oii, Dani! Bem isso mesmo, ele escreve de maneira tão subjetiva, mas não tem como não se identificar, rsrs.

      Abraços.

      Excluir
  3. Nossa, acho que ainda não tinha lido os textos desse autor. Me encantei com a forma como ele é melancólico...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Melancólico deveria ser o segundo nome dele, rsrsrs. Amo,

      Abraços.

      Excluir
  4. ju! faz uma parceria com esse morgan ,ele é demais ;) rsrs

    ResponderExcluir
  5. Muito obrigada, estarei visitando sim.

    Abraços.

    ResponderExcluir