16/12/2015

Entrevistando: Sergio Rossoni, autor de Birman Flint

Sergio Rossoni é o mais novo parceiro do Ser Escritor(a). Conversei com a Assessora dele por e-mail, e ela foi a mediadora da entrevista que fiz com o Sergio, hehe. O meu exemplar do livro chegou hoje (e claro, farei a resenha dele assim que possível). 

Vamos conhecer um pouco sobre o Sergio? Ele é psicanalista (já simpatizei), escritor, ilustrador e músico. Possui um vasto currículo de realizações em sua vida profissional. Na carreira de escritor, Sergio usou influências da cultura russa na construção de seu livro. 

Ficou interessado? Então venha conferir essa entrevista super bacana que fiz com ele! 

Ser Escritor(a): Como você descobriu a vocação para a escrita?

Sergio Rossoni: A vontade de escrever nasceu da paixão por livros. Desde pequeno, sempre estive acompanhado por livros de aventura e ficção, além de adorar desenhar pequenas histórias que eu mesmo criava adaptando personagens do cinema. O desejo de escrever histórias de aventura sempre me acompanhou de alguma maneira, porém, foi como psicanalista que passei a escrever alguns artigos desenvolvendo assim o hábito da escrita, buscando mais tarde em oficinas literárias, a melhor maneira para desenvolver algumas técnicas que me ajudaram e ajudam muito no processo de escrita.
Quanto a descoberta da vocação, acho que ainda estou descobrindo isso, com muita vontade e entusiasmo.

S.E.: A trama do seu livro, Birman Flint e o Mistério da Pérola Negra, teve por base a cultura russa, e em especial, o assassinato da família Romanov. Como tudo isso lhe inspirou na construção do livro?

S. R.: Acho fascinante e triste o mistério em torno do assassinato dos Romanov. Um período da história que parece atrair muitos historiadores ainda hoje, onde personagens como Rasputin ainda encantam não somente estudiosos, mas principalmente o imaginário coletivo.
De alguma maneira, o cenário juntamente com a cultura russa, isto sem contar com sua arquitetura incrível, foram objetos do meu interesse muito antes de começar a escrever o livro. Sou apaixonado por história e costumo me aventurar pesquisando sobre alguns países que de alguma forma combinam com a minha personalidade.
Quando comecei a escrever Birman Flint, de alguma maneira a Russia e sua história se fizeram presentes de maneira automática, inconsciente, e sabia que a  trama, de certa forma, acabaria por envolvê-lo numa aventura por terras cuja beleza se contrastava com sua frieza e escuridão, como a Russia daquela época, onde conspirações políticas acabaram por derrubar a dinastia Romanov. Quando imaginava Flint, o via mergulhado neste universo, porém, num mundo imaginário, convivendo com personagens que de certa maneira, representam algumas destas figuras, como se assim, pudesse reescrever seus destinos.


S.E.: Além de escritor, você é psicanalista, ilustrador e músico. Como consegue conciliar a carreira de escritor com tantas outras atividades que desenvolve?

S.R.: Procuro obedecer minha agenda como terapeuta, deixando o tempo livre para a escrita e o estudo de desenho. Contudo, não procuro estabelecer uma rotina, mas sim deixar a vontade falar mais alto. E tempo é algo que busco administrar reservando um pouco para cada coisa. Em determinadas épocas, posso me dar ao luxo de escrever mais, clinicar menos e desenhar muito. Em outras, a coisa se inverte, mas sempre deixo um pouquinho para as três atividades. Só a musica que considero algo distante, pelo menos neste momento.

S.E.: Qual o tempo, em média, que levou para desenvolver seu livro e terminá-lo? Quais dificuldades encontrou pelo caminho?

S.R.: Aproximadamente uns 4 anos, muito embora nos dois primeiros, a história não estivesse clara na minha cabeça, o que considero uma grande dificuldade que encontrei, demorando algum tempo para que finalmente o livro, bem como os personagens, começassem a ganhar sua forma final.

S.E.: Quais métodos você utiliza para escrever seu livro? Possui algum cronograma, roteiro, algo que lhe ajude a designar um rumo para os próximos capítulos? Ou o processo de escrita é mais natural?

S.R.: Quando finalmente o livro assumiu uma forma clara na minha cabeça, comecei a reescrevê-lo de forma natural passando posteriormente a usar algumas técnicas básicas que me ajudaram muito, como por exemplo, fazer um resumo de cada capítulo para depois desenvolvê-lo de forma detalhada. 
Hoje costumo usar esta técnica - organizar a história e desenvolver um pequeno roteiro para cada capítulo. Uso também fichários para os personagens, descrevendo suas características psicológicas, físicas, seu histórico, figurino, enfim, toda a informação que puder reunir para cada um deles. Tendo esta espinha dorsal pronta, começo a escrever de fato.
Deixo a história fluir de maneira natural, deixando-me ser conduzido por ela. Certa vez, quando questionei o Ricardo Filho, um dos maiores escritores brasileiros e amigo querido sobre o medo de uma história ficar longa demais, tive como resposta algo que carrego comigo sempre: "A historia termina quando termina". 

S.E.: Qual estilo de livro você nunca escreveria?

S.R.: Biografia.

S.E.: Quais são as suas motivações para escrever?

S.R.: Puxa...tudo me motiva. Ler, criar uma história que eu adoraria escutar, ou contar; filmes e personagens que me marcaram muito; novos escritores e livros fantásticos que surgem a cada dia; Julio Verne, Hugo Pratt, Hergé, desenhar, acho que tudo isso me motiva. A possibilidade de poder criar, fazer absolutamente tudo de maneira livre, recomeçar, tudo me motiva a escrever cada vez mais.

S.E.: A Chiado Editora é excelente em seu trabalho e possui um vasto catálogo de livros. Como foi para você entrar no mercado editorial, e conseguir uma publicação? Encontrou alguma dificuldade?

S.R.: Eu já havia enviado meu livro para algumas editoras quando o Ricardo Filho me falou sobre a Chiado. O processo foi o mesmo, envio de material, etc. Contudo, a receptividade deles foi incrível e em pouco tempo, para minha surpresa, estava conversando com minha editora sobre a possibilidade de lançá-lo aqui no Brasil e em Portugal. Costumo dizer que o universo conspira a favor quando você acredita em você. No caso do Birman Flint, serviu-me apenas para reforçar minha crença nisso.

S.E.: No seu livro, você cria um universo fantástico animalesco, tendo como personagem principal um repórter felino. Fale um pouco sobre seu livro, e de onde surgiu a ideia de trazer ao livro personagens que não são humanos, mas sim, animais.

S.R.: Meu amor pelos animais sem dúvida foi o ponto chave. Sou um protetor de todos os animais e entendo que todos nós, seres vivos, somos merecedores de amor e respeito.
A ideia do livro com animais partiu de uma homenagem feita para um gato lindo que tive, e que me mostrou muita coisa ajudando-me a ser um humano melhor. Ao mesmo tempo, cresci assistindo desenhos da Disney onde animais falavam, cantavam, se metiam em encrencas típicas do nosso mundo. Quando comecei o livro, que inicialmente era pra ser mais infantil, automaticamente imaginei algo assim, deixando a coisa fluir e tomar uma forma muita distinta, onde aos poucos, a trama ganhou uma característica adulta (sim, considero Birman Flint um livro adulto também) juntamente com os animais, que ganharam uma personalidade mais sombria, humana, transformando-se em arquétipos, fragmentos da minha própria personalidade.
Aos poucos, o mundo de Flint ganhou forma a partir de tudo aquilo que admirava em histórias que havia lido, assistido e até mesmo imaginado ao longo dos meus 48 anos. Desenhos e filmes, livros e HQs se fundiram em minha imaginação e comecei a contar uma história que no fundo, eu gostaria de escutar.

S.E.: E, para finalizar, qual conselho você daria para quem almeja ser escritor?

S.R.: Escreva, deixa a historia conduzi-lo. No caminho, muitas vezes nos deixamos baquear por criticas, mas não tenha medo. Se dê o apoio de que necessita e siga adiante. O universo conspira. Conte sua historia, busque a orientação de alguém, uma oficina, etc. Reescreva e se divirta durante o processo, caso contrário, não valerá a pena. E no final, curta seu momento e comece uma nova história.


2 comentários: