05/06/2014

A cena...

Chovia do lado de fora. As paredes da casa dele demonstravam muito bem isso. Entrei na cozinha, fechando meu guarda-chuva encharcado. Coloquei-o ao pé da mesa. A casa estava em um silêncio assustador. Eles haviam saído, mas sabia com toda a certeza que aquele que eu estava procurando, se encontrava ali.
Guardei as chaves da casa que ele me havia dado. Me dissera que eram para os momentos em que mais precisasse, e, embora tivesse me pedido para deixa-lo sozinho àquela noite, não pude me conter.
Ele precisava de mim. E eu precisava fazer com que ele ficasse bem.
Joguei minha bolsa sobre a mesa, e caminhei pelo corredor deserto. Seu quarto era no final. A porta fechada era um convite para que eu me afastasse, mas não havia chegado até ali em vão.
Minha mão direita pousou sob a maçaneta, e com a ajuda da esquerda, abri em um pequeno empurrão a porta, fazendo um leve ranger.
- O que faz aqui? – perguntou ele ao me ver, tirando brevemente os olhos de seu livro.
Creio eu que Nietzsche para estressados era uma ótima opção para o estado no qual ele se encontra.
- Vim porque sou sua amiga. – respondi, empurrando a porta atrás de mim. – E também, porque me importo.
- Não finja que se preocupa. – respondeu ele, áspero. – Você sabe muito bem que as pessoas não fazem nada em amor ao próximo, se isso não for beneficiar primeiro a si mesmas. – Ele parecia firme em suas palavras, mas pude perceber pela forma trêmula como segurava o livro, que estava nervoso.
Revirei os olhos, pedindo às forças maiores do Universo que me acudissem. Estar com ele me causava um sentimento misto entre dar-lhe um belo tapa em sua face, ou simplesmente abraçá-lo, como se esse gesto pudesse livrar nossas almas do sofrimento que nos cerca.
Sentei na beirada da cama, apenas encarando-o.
Havia mudado pouco desde a última vez que o vi. Seu cabelo estava bagunçado. Em seu queixo pendiam alguns pelos da barba mal feita. Percebi que suas mãos continuavam a tremer. Tomei-lhe o livro, colocando-o sob o criado-mudo, onde uma xícara de café se encontrava.
Toquei com a ponta de meus delicados dedos sua enorme e fria mão.
Ele não pareceu recuar ao gesto, apenas olhou para o outro lado, tentando se conter do nervosismo.
- Por que estás assim? – perguntei fazendo o som de minha voz parecer alto no quarto silencioso.
Ele nada respondeu. Apenas virou seu olhar para mim.
Me aproximei dele, meu quadril ficando na altura de sua cintura. Meus dedos subiram delicadamente por seu tórax, formando uma dança por seu corpo. Coloquei uma mão sob seu pescoço, massageando-o.
Nossos olhos se encontraram. Nossas vozes teimavam em fazer reinar o silêncio. Me aproximei de si. Minha outra mão pousava em seu peito, sentindo as batidas aceleradas de seu coração. Podia sentir seu respirar lento e quente. Seu lábio carnudo me atraia terrivelmente, e, num súbito momento corajoso, me peguei fazendo algo jamais imaginaria.
Beijei-o!
Primeiramente, nossos lábios se roçaram de maneira tímida, tentando se encaixarem. Ele resistiu de início, mas logo se rendeu ao desejo que também lhe consumia.
Suas mãos me agarraram por minha fina cintura, levando-me para mais perto de si.Minhas pernas enlaçaram-o de forma tímida, fazendo-o parar o beijo para me encarar.
Seus olhos castanhos brilhavam intensamente, de uma forma a qual eu nunca tinha visto antes. Retribuí o olhar de forma meiga e apaixonada.
Ele me puxou para perto de seu peito com um dos braços, enquanto o outro acariciava minha nuca, seus dedos subindo para minhas madeixas.

Nossos lábios se encontraram novamente, desta vez mais acostumados com o outro, mas ainda assim, cheios de desejo. 

4 comentários:

  1. Socorro! Que maravilhosoo! Adorei.. Vc escreve mto bem !!

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    1. Oiie! Muito obrigada mesmo, viu <3

      Heheh, até mais.

      Beijos.

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  2. cadê vc? esqueceu do blog, eu gostaria que me tirasse uma duvida ,qual a diferença de cronica e conto

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    1. Oii... abandonei o blog não, kk.
      Seu comentário me inspirou uma postagem: http://ser-escritora.blogspot.com.br/2014/06/cronica-e-conto-qual-diferenca.html

      Abraços.

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