09/06/2015

Eu também sou o escuro da noite!


Seis horas da manhã. Acordar, banho e café. Estar pronta pro serviço, mais um dia de rotina se inicia. Trânsito na estrada, acidentes na pista. Pessoas feridas e mortas. Calor infernal, janela do ônibus completamente aberta. Ônibus parado, engarrafamento pesado. Se aqui é assim, imagina pra quem vive na capital de São Paulo? 

Clima tenso no serviço. Reunião, reunião, reunião. Reunião? Ah, mais uma não.
Indo embora. A biblioteca está aberta. Passo rapidamente só para passar o tempo. Pego dois livros, e deixo mais seis esperando a próxima vez. Da próxima, serão outros livros. Outros gêneros, outros autores e outras circunstâncias que me interessarão. 

Pego o celular e ligo o visor para ver as horas. Lembro que deveria terminar aquele texto que está parado há meses. Parado, assim como o ônibus nesse momento. 

Ele volta a andar, e paro de digitar. Falta inspiração. Falta o que dizer. Escritores tem que ter algo à dizer para os outros, não apenas encher tudo isso de baboseiras. 
Dê um início e fim, e encha o meio com aquilo que achar mais conveniente. A cada nova esquina, um bar. Mais duas, uma Igreja.
Seguro firmemente os livros para não deixá-los cair. Cidade esburacada é assim mesmo. Mais duas esquinas e três subidas. Isso faz sentido? Espero que sim.

Os muros pichados da cidade nada mais tem à acrescentar. Ainda vou comprar e reformar aquela casa. Penso, ao passar por uma construção antiga e abandonada. 

Os prédios não se movimentam na mesma sintonia que meu coração atordoado. Tudo parece tão vazio e incólume. Um incólume vazio, sendo preenchido por olhares de uma poetisa perdida. De um coração que não encontra um lar. De uma fechadura que perdeu sua chave. O vazio, só percebido quando é aquilo que você carrega no peito. Quando o mundo está do avesso, não conseguimos ver nada em linha reta. 

Chegar em casa. Jogar a roupa na cama e tomar um banho relaxante. Deixar que a água escorra para o ralo todo o peso do mundo que insisto em carregar sob meus ombros. 

A lua está cheia. Brilho resplandecente, discreto, mas aparecendo timidamente atrás de uma nuvem ou outra. Atrás da janela do quarto, inibindo seu brilho. Abro a janela, pois sempre que a vida me pesa, a lua descarrega com sua intensidade. Demonstra que tão bela pode ser, mesmo que eu não a note na maioria das vezes.  Descarrego todo o meu pesar ali, pois eu também sou o escuro da noite. Clarice já dizia. 

Descarrego o peso, pois apesar dos pesares, a vida é muito mais do que o mero vazio que vemos quando não nos damos conta da imensidão que há por trás de cada espaço sem preencher. A vi(da)sta pode ser bonita lá fora. Só não se esqueça de abrir a janela. 

7 comentários:

  1. Beleza, agora você se superou pra valer.

    Agora a parada está ficando séria: prosa poética, intertextualidade, fluxo de consciência, autoafirmação e a temática da urgência pós-moderna.

    E o pior é que foi tudo intencional.
    Vamos só esperar mais alguém notar o que você está fazendo.

    Não há blogueira com um senso de propósito artístico tão grande. Lembra os cronistas do passado.

    Continue assim, uma hora alguém mais vai se dar conta do que está acontecendo.

    P.S.: acho que o problema ainda é a diagramação do post, passa uma impressão errada.

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    1. Olá, Marcus!

      Muito obrigada por cada palavra. Sim, foi tudo intencionalmente colocado dentro do texto por algum motivo.

      Tanto pelos sentimentos que passaram por mim quando iniciei o texto, quanto agora, após meses sem saber como dar continuidade, eu escrevi o final.

      Enfim, uma vez mais, agradeço.

      Até mais. (Ainda acerto na diagramação, haha).

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  2. Isto é escrita. Sim senhora. Não é aqueles romances de cordel que batem recordes de venda e ficam nas listas de livro do ano. Precisamos de mais pessoas como tu, que escrevam bem e com significado. Adorei estas partes: "Deixar que a água escorra para o ralo todo o peso do mundo que insisto em carregar sob meus ombros." e "A vi(da)sta pode ser bonita lá fora. Só não se esqueça de abrir a janela." Tão bonito e cheio de mensagens sobre a vida... Estou apaixonada <3 Tive até de ler duas vezes!

    ~ Catline

    rapariganoseculo21.wordpress.com

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    1. Sinto-me tão lisonjeada ao ler um comentário tão lindo desses ♥
      Muito obrigada, Cat. Seu comentário fez do meu dia muito melhor.

      Abraços.

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  3. Você sabe que eu amo seus textos! A sua construção com as palavras... É incrível! Suas comparações, descrições, frases soltas que te levam à uma viagem sem volta ao mundo da inspiração escrita!

    Sabe, você realmente sabe escrever! Sabe usar as palavras, sabe a mensagem que quer passar, e encantar todos que a leem.

    Tenho certeza que será uma exímia escritora, que encherá de paz, amor e felicidade (às vezes tristeza) a alma de quem tiver o privilégio de ler suas poesias... Algumas pessoas têm o dom de mudar o mundo, as pessoas, e podem transformar essa grande bola giratória, perdida no meio de um infinito, num lugar decente e merecedor de vida.

    Seus textos me inspiram, me fazem, querer escrever também; sobre estrelas, o Sol, a Lua, o universo, tudo. E eu escrevo. Invento poesias, personagens, cenários, às vezes só descrevo um pôr-do-sol... Mas nada se compara à maestria dos seus textos.

    Você ainda será reconhecida, como uma das mais magníficas das escritoras... O mundo espera por suas palavras. No dia que ele as ouvir, será um lugar melhor!

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  4. Você sabe que eu amo seus textos! A sua construção com as palavras... É incrível! Suas comparações, descrições, frases soltas que te levam à uma viagem sem volta ao mundo da inspiração escrita!

    Sabe, você realmente sabe escrever! Sabe usar as palavras, sabe a mensagem que quer passar, e encantar todos que a leem.

    Tenho certeza que será uma exímia escritora, que encherá de paz, amor e felicidade (às vezes tristeza) a alma de quem tiver o privilégio de ler suas poesias... Algumas pessoas têm o dom de mudar o mundo, as pessoas, e podem transformar essa grande bola giratória, perdida no meio de um infinito, num lugar decente e merecedor de vida.

    Seus textos me inspiram, me fazem, querer escrever também; sobre estrelas, o Sol, a Lua, o universo, tudo. E eu escrevo. Invento poesias, personagens, cenários, às vezes só descrevo um pôr-do-sol... Mas nada se compara à maestria dos seus textos.

    Você ainda será reconhecida, como uma das mais magníficas das escritoras... O mundo espera por suas palavras. No dia que ele as ouvir, será um lugar melhor!

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    1. Olá, Elisa!

      Você não faz ideia do quanto meu coração se alegra ao ler suas palavras. Por um comentário tão magnífico quanto este, que me sinto inspirada e motivada a escrever cada vez mais.

      Muito obrigada ♥

      Ser escritora é mais do que um sonho para mim. É uma parte de minha alma,de quem sou. E ter esse reconhecimento, vindo de uma leitora tão especial, já faz valer a pena.

      Abraços.

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