04/11/2016

Epifanias de uma sexta-feira qualquer


Não há sentido em viver assim. Rotina marcada, compromissos cerrados. Corpo acostumado a levantar no mesmo horário, fazendo as mesmas coisas.

7h o café já está esfriando, 8h o ônibus já está passando e a vida vai ficando para trás. Enquanto eu não estiver fazendo aquilo que amo por paixão, sentirei que minha vida está fatiada em pequenas parcelas dispersas.

Dedique-se ao seu sonho. Seus sonhos! Qual seria o sentido de estar aqui se for para viver uma vida que você não pode chamar de sua?

Cometi um pecado com o texto. Contra mim mesma. Ontem, olhando pela janela do ônibus na volta ao serviço, imaginei todo ele se passando em minha mente. Todas as palavras que reprimia-me a dizer em voz alta.

Mas não o anotei. Não escrevi todas aquelas palavras que envolviam-me como os versos envolvem o coração de um poeta.

Anoiteci o texto. Pois eram tantos pensamentos que me acometiam de uma vez só, que tive medo. De explodir com as palavras. Delas me atropelarem, e serem mais fortes do que minha rapidez ao digitar. Anoiteci meus sentimentos. E acordei outra pessoa. Ou, talvez, quem sabe, eu não tenha amanhecido ainda.

Senti repúdio! Pela pessoa que era, sem conseguir ser eu mesma. Verdadeiramente!

Sento-me ao último banco do ônibus, com o vidro divisório bem à frente. É meu lugar, e não aceito que mais ninguém o tome de mim. Aqueles que costumam sentar-se em bancos unitários têm uma solidão aterradora dentro de si. Aqueles que sentam-se nos bancos mais altos, gostam da sensação de poder, por um instante.

E eu, em meu último banco de frente para o vidro, apenas admiro o reflexo que as paisagens deixadas para trás, quando refletidas no espelho improvisado.

Tomei esse lugar para mim, quando vi refletido o monte atrás do vidro do banco onde sento. Ao encher meus olhos com as cores das casas que já passaram, e o crível amontoado que se fez.

Poesia se faz com amor. Paixão. Casas coloridas que ficaram para trás. Mas antes de mais nada, com o coração. O essencial é invisível aos olhos, mas estou sempre disposta a vê-los.

Pelo reflexo das lentes de meu próprio óculos com armadura grandessa.

E nesse momento, nem o verde apagadito das folhas secas das árvores me transbordam a visão. Perdeu-se a cor no meio da poesia.

Mas eu sou poesia, e não encontrei-me ainda. A maioria das pessoas passam pelo mundo e permitem que sua visão veja o básico. Eu me transbordo com a intensidade das coisas que me cercam.

18 comentários:

  1. Oiiii, Ju =D
    Adorei o texto como sempre <3
    E esse pedacinho <3 "A maioria das pessoas passam pelo mundo e permitem que sua visão veja o básico. Eu me transbordo com a intensidade das coisas que me cercam."
    Hoje em dia posso dizer que faço o que amo, já que faço apenas trabalhos envolvendo a literatura. Ainda estou muito longe do lugar em que quero chegar, mas pelo menos estou caminhando para lá hahahha
    Um beijão
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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    1. Oii, Gi!

      Muito obrigada! Achei este texto salvo nos meus rascunhos. Lembro perfeitamente o dia em que o escrevi, então... decidi postar, hehe.

      Podemos até não estarmos onde queremos, mas estamos chegando lá. ;)

      Abraços.

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  2. Ju você escreve muito bem! Já pensou em publicar? Se não, deveria!!

    Bjus

    Conheça o Blog Belle Almeida

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    1. Oii, Belle!

      Muito obrigada! Eu vou publicar só meu livro, por enquanto. O "Não foi suicídio", mas não tem nada em relação com os textos do blog.

      Abraços. ♥

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  3. Que profundo e envolvente, eu consegui te imaginar enquanto lia, foi muito bom! Parabéns *-*

    Beijão, mariasabetudo

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  4. Ju, que texto mais lindo <3 Tão bonito e poético se envolver profundamente com tudo que nos rodeia.
    Charme-se

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    1. Obrigada, Simone! Ele estava guardado em meus arquivos, hahah. ♥♥

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  5. Adorei o texto! Eu gosto de sentar nos bancos unitários e nos bancos mais altos, hahaha! Gosto dos bancos altos porque dá pra ver tudo o que tá acontecendo, se tiver alguma ação estranha ou coisa do tipo, já corro pra porta, hahaha! Mas eu gostei bastante do seu texto, porque toda sexta percebo em como a semana passou rápido e eu não fiz nada além da rotina. Vez ou outra é que muda alguma coisa em um dia na minha semana.

    Beijos!
    www.likeparadise.com.br

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    1. Oii, Thami!

      Eu gosto dos bancos altos, vez ou outra, hahaha. Aliás, qualquer lugar que dê para refletir na vida. Espero que tenha boas reflexões!

      Abraços. ♥♥

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  6. Você escreve tão bem... Parece que em tudo você enxerga poesia!

    Ainda bem que você achou o meu blog e eu pude encontrar o seu!

    Beijos! <3

    www.reinodaspalavras.blog.br

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  7. "Sento-me ao último banco do ônibus, com o vidro divisório bem à frente. É meu lugar, e não aceito que mais ninguém o tome de mim".

    Eu também sou da "turma do fundão" :D

    Você pode ter perdido o seu texto, mas escreveu esse, que tal?

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    1. O outro texto teria reflexões bem mais profundas, haha.
      Mas têm males que vem para o bem, certo? ;)

      Abraços. ♥

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  8. Toda vez que penso em textos, penso em frases
    Toda vez que penso em frases, penso em palavras
    Toda vez que penso em palavras, penso em batatas fritas com ketchup.
    Toda vez que penso em Ketchup, penso se esse é o jeito certo de escreve-lo

    Espero que tenham gostado, essa foi só para descontrair.


    Me desculpe Ju, não resisti, eu tinha que escrever isso :D
    Boa Noite :D

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    1. Hahah, que bacana! E bela reflexão noturna. ;)

      Abraços, Anônimo! ♥

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