Quero tecer amanhãs!

Calei-me pois nada mais tinha a dizer. Consenti por não dar relevância ao que me era dito e nem atenção ter prestado. Engoli em seco, mordiscando os lábios com leves rachaduras que o tempo deixou marcas em meu corpo. Molhei os lábios, num instinto voraz e corriqueiro de fazer-me desejada. Dei de ombros pelas bobagens que me tumultuam. Suavizei as sobrancelhas, para as alegrias que me tomam.

Quis, instantaneamente e por motivo algum, saber delicadamente escrever redigindo transcrevendo e digitando sobre o mundo e fazê-lo ver ao seu redor da forma como vejo o que me cerca. Que a delicadeza do mundo não te assombre quando você passar a ver com alegria que talvez nem tudo esteja tão perdido assim. Quis, instantaneamente e sem motivo aparente, ser a grande tecelã de meu destino, e saber entrelaçar cada fio já feito.

Ligar um fio ao outro, de forma ordenhada e bonita. Mas ultimamente, só tenho feito cama de gato. Ligo uma coisa à outra, e me perco no meio do emaranhado que criei. Desejei ardentemente com todas as forças de meu ser, possuir grande conhecimento do mundo sem transbordar minha mente com tamanha informação.


Só queria, afinal, que algum dia o respirar de alguém tivesse se tornado mais fácil por minhas palavras mal pronunciadas em um texto jogado. Como a letra de uma bossa nova transformada em sertanejo universitário. Mas quis, de algum modo, que tudo no final fizesse sentido, e as palavras por mim tecidas - redigidas, transcritas e digitadas -, não fossem assim tão banais.

Quero ser a tecelã do amanhã! Ordenar com destreza um fio de 2008 com aquele que virá depois de hoje, pois a vida é feita de momentos aleatórios que se complementam. E quando um, por menor que seja, deixa de ocorrer, a vida da gente se torna diferente.

Quero tecer amanhãs, e ao passar um fio sobre o outro, calar-me pelas palavras que jamais serão pronunciadas, e consentir sobre algo que nem prestei atenção. Quero tecer o amanhã, o meu amanhã, através do hoje. E do passado.

Enquanto eu tiver lembranças do que já passou, poderei tecê-las ao presente, para ligar os fios soltos da máquina de tecer o futuro. Poderei conectar quem fui ontem com quem sou agora, e descobrir se nessa confusão que chamo de vida, fiz diferença na de alguém.

Quero tecer amanhãs! Mas quanto mais tento ligar meus fios soltos, mais camas de gato tenho feito.